sábado, 20 de setembro de 2008

O Homem Cotidiano


Bom, eu ando tentando voltar a escrever, mas como vocês devem andar percebendo a minha intimidade com a pena ou como eu gostaria que ainda fosse, com a Olivetti, não anda muito boa, então vamos lá.

Estava eu agora, fazendo o meu café da manhã (dois ovos com gema mole, um peito de frango frito, um brioche amanteigado e um copo de leite gelado com chocolate) quando fiquei pensando em personagens, que poderiam me incentivar a voltar a escrever.

Um dos que mais me anima é o típico pacato cidadão. Eu conheço alguns, você deve conhecer um ou dois e eu devo confessar que esse personagem me fascina.

Veja bem. Uma das coisas que mais me fascinam no mundo são aquelas moças. Verdadeiros fetiches, com pernas roliças, cabelos negros de preferência (não que eu esteja desdenhando loiras e ruivas, longe de mim), olhares de corça e sorrisos de esfinge que pelo simples ato de cruzarem nossos caminhos em uma determinada rua, já nos salva o dia. Faz surgir sorrisos até no mais árido e impassível rosto carrancudo.

Mas toda essa beleza já faz fluir uma arte por si só. A arte está ali, pronta, você não interpreta, não meu amigo, você no máximo fantasia em cima daquilo que Deus já nos entregou de mão beijada. Já o nosso amigo o homem pacato, ele tem uma arte toda sua, toda própria.

Ele não possui beleza alguma, você sabe disso, ele no máximo possui um aflorado senso de camaradagem, de fraternidade ou em alguns casos até mesmo de auto identificação por parte de quem o vê.

Ele é aquele sujeito calvo, cabelos grisalhos ou brancos rareando, ombros quase sempre curvos. Óculos pendurados na ponta do nariz, como se estivesse sempre pronto para ler a próxima bula de remédio que fosse posta diante de si, tem sempre um sorriso no rosto, embora seja um sorriso meio de lado, quase que se desculpando por sorrir.

Muitas vezes é visto caminhando por aí, ou passeando de bicicleta com o pão debaixo do braço ou o jornal do dia.

Vinicius de Moraes fala de um, que no auge de sua solidão tirou a própria vida. Ele era Um Homem Chamado Alfredo.

Já Nelson Rodrigues falou de vários, pacatos em seus atos e completamente promíscuos em seus pensamentos. Devorando com os olhos as ditas “ninfetas” que passavam de curtas saias, com suas pernas douradas de quem vive pelas praias, coloridas pelo Sol.

Esses homens que em algum momento se recolhiam a suas casas, afundados no sofá, mirando com os olhos fora de foco uma TV sem atrativos ao lado de uma esposa que, muitas vezes, nem lhes percebe mais a presença. São quase como se fosse parte da mobilha.

São esses homens que muitas vezes me fascinam. O mundo, ou os mundos que existem em suas mentes que se negam a ser anestesiadas pelo torpor cotidiano e por isso se esquecem de seus corpos e viajam para longe embalados em suas mentes.

É justamente sobre esses homens que um dia espero ter a sorte e a capacidade de escrever.


Video de Hoje: Seu Jorge - Tive Razão

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