domingo, 2 de julho de 2006

Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...
Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.

E então ela sofreu
E ele via que ela sofria
E seu sofriemento era belo
Embora triste
E em meio a uma lágrima ela olhou nos olhos dele
E ele perdeu o coração com aquela lágrima
Ele quis chorar
Não por se sentir triste como ela
Mas por se sentir incapaz de lutar contra sua tristeza
Por não poder se sentir alheio a tanta beleza
Ao brilho daqueles olhos lavados
A dor que daquele coração se derramava
E que ele agora percebia o quanto amava
Era como se a mágoa e as lágrimas formasem um coro
Um coro que irradiava beleza e poesia
E uma tristeza
Tão bela
Que quem olhava sofria
E ele quis chorar
Mas já não mais conseguia
Ele quis conter cada lágrima
Mas não podia
E então ele se deu conta
Que ali
Diante dos seus olhos
Ele a perdia