domingo, 22 de abril de 2007

Um Dia Na Praia

Minha família hoje foi à praia.
Me chamaram pra ir, disseram que seria divertido e tal.
Eu recusei.

Algum de vocês já analisou a praia?
Eu já.

Dizem que a praia é uma das únicas formas de lazer totalmente de graça
MENTIRA
Antes de você chegar lá já tem que comprar o filtro solar
Não pode ser um normal
Afinal de contas o Sol hoje em dia já não é mais normal.
Você compra um filtro solar fator ...
Ele não da câncer de pele
Não da insolação e não irrita a pele
E o babaca aqui achando que todos eles tinham essa finalidade
É claro que justo esse filtro solar é o mais caro que tem

Quando finalmente chegamos na praia surgem outras despesas
Tom a cervejinha, o chopinho e às vezes até um sorvetinho.
Quando você chega na areia percebe que não tem lugar pra ficar
Aquilo ta parecendo banco em dia de pagamento
Surgem vários auxiliares oferecendo serviço

Hoje em dia na praia temos auxiliares. Daqui a pouco vai ter flanelinha na areia, guardador de velha, a porra toda.
“Deixe a velha com a gente e vá dar um mergulho, quando voltar ela estará a sua espera. Não nos responsabilizamos pro qualquer objeto deixado com a velha.”

Eles também alugam, cadeiras, guarda-sóis, espreguiçadeiras, lugares demarcados e o que mais vier à cabeça.

Você enfim acha um lugar, de um lado tem uma mulher, repartido algo que você acredite que seja um almoço entre os seus 17 filhos e achando que aquilo ali é a asa dela, do outro tem um velho com cara de safado, com uma sunguinha quase toda escondida pela barriga de cerveja, com um palito de dente no canto da boca e um Ray-Ban comprado meia hora antes num ambulante. O cara só fica dando risadinhas sacanas e olhando pra todas as garotinhas da praia, se achando o rei do pedaço.

Quando você já está devidamente instalado e pensa em pegar o seu livro, vem uma chuva de areia, você olha puto e vê que são vários filhos de pobre correndo entre as pessoas rindo não sei do que e berrando.

Não sei se vocês já repararam, mas filho de pobre só ri e fala berrando. Se filho de pobre tivesse noção da própria situação só ia andar pela rua chorando e de cabeça baixa, mas tudo bem.

Você decide então se recostar e apreciar o mar, relembrando aqueles verões bucólicos de antigamente em que as praias tinham rodas de violão, com fogueira e onde se cantava Star Rain to heaven e as pessoas não ficavam deprimidas com isso.

Quando você olha pra lá tem mais dois caras, bem na sua frente, jogando frescobol, rebatendo aquela bolinha de um lado pro outro da forma mais monótona e repetitiva do mundo. Aquilo parece passatempo de rato de laboratório.

Você muito puto da vida já, resolve ir para o único lugar naquele cenário onde poderá se ver livre daqueles elementos, a água.

Na água não tem calor, não tem mulheres almoçando com suas crianças, não tem nem filhos de pobre e nem ambulantes jogando areia em você.

Você caminha até lá, passa pelos jogadores de frescobol, passa pela parte rasa onde ficam as crianças dando as suas mijadinhas (no melhor das hipóteses é claro), passa pela área onde ainda tem mais gente do que o espaço físico comporta, passa pela área dos surfistas.

Esses, baseados em algum filme idiota da década de oitenta, ficam te encarando como se você tivesse invadindo o espaço deles, como se fosse o estrangeiro invadindo a sua área, mesmo você reconhecendo um ou dois deles como seus vizinhos de anos, mas tudo bem.

Você finalmente chegou numa área onde é só você, umas duas ou três pessoas, o céu e o mar, tudo é tranqüilidade, você olha pra areia e percebe que até a inventividade de Deus tem limites, se ele soubesse naquela época o que é uma praia lotada, nunca teria inventado a praga dos gafanhotos no Egito.

E aí quando aprece que você achou algo agradável naquele dia, você percebe que o chão sumiu, sim, o chão sumiu. Você ficou tanto tempo olhando pra areia, pro céu e pensando na vida que a correnteza te arrastou mais pro fundo do que você gostaria de ter ido.

Aí você percebe que no único lugar em que você poderia ter ficado em paz, você tem que travar uma luta feroz com a natureza pela sua vida e caso você perca, das duas uma: Ou você morre ou pior, você vai ser retirado da água por um negão do tamanho de um armário, usando sunguinha e camiseta regata e que ainda vai tentar te dar um beijo de língua na frente da praia inteira.

Resumindo, a praia é o único lugar do mundo onde literalmente, Deus e o mundo se unem pra te sacanear.


Ps: Gostaríamos de avisar a todos que devido ao crescimento desordenado da espécie humana, vocês nunca verão uma praia deserta, com uma mulher lindíssima caminhando na direção oposta ao som de Kenny Gee. Não se iludam.

Nenhum comentário: