domingo, 21 de janeiro de 2007

Acredito que grande parte daquilo que a pessoa é na vida se deve principalmente pelas suas crenças e valores próprios, crenças e valores, não que recebemos quando somos crianças, ou se recebemos somos novos demais para nos lembrar quando eles passaram a fazer parte de nós, mas que vem conosco desde uma data imemorável, quase que inconsciente.

Acho que grande parte do que eu sou, ou pelo menos do que eu tento ser, se deve ao fato de muitas das minhas crenças viverem cristalizadas de tal forma na minha mente que eu não consigo agir contra elas.

Por exemplo, o céu. Por mais que eu cresça e adquira cultura eu não consigo me livrar da mesma idéia de céu que eu tinha quando era pequeno, creio que ela só foi ficando mais elaborada com o tempo, mas a sua síntese ou o espírito da coisa, continua exatamente o mesmo de quando eu era criança. Acho que o céu é aquilo que lhe da prazer no sentido mais puro e ingênuo da palavra, aquilo que te faz sentir-se bem, plenamente feliz.

Baseado nesse principio o céu poderia ser uma coisa pra mim e outra pra você, caro leitor. Poderia ser para você apenas uma casa de campo onde passou a infância e para o amigo que está ao lado àquelas férias inesquecíveis no exterior que jamais acabariam.

Claro que um dia elas acabam, baseado em minhas crenças pessoais, esse cenário seria apenas criado para te receber no além e para te deixar a par de tudo o que lhe reserva o tempo, como todo aquele ciclo de vida, morte, reencarnação e etc.

Venho trazer essa história aqui hoje, pq justamente hoje essa minha visão já tão conhecida me veio durante o sono e resolvi acordar e compartilha - lá com vocês.

Ao contrário do que muitos pensam, o meu mundo além morte seria justamente a Cinelândia e a parte da enseada da Glória logo em frente, mas não a Cinelândia de hoje, rodeada de engarrafamento e com mendigos e pivetes por todos os lados e sim uma Cinelândia atemporal, com todos os seus cinemas de portas abertas, com seus leões de chácara sempre a postos, com seus bilheteiros e lanterninhas sempre vestindo impecavelmente os antigos ternos vermelhos ou azuis e os tradicionais chapéus a tira colo.

Todos os cinemas, que teriam em cartaz sempre os meus filmes preferidos, empenhados em exibir durante o dia suas matinês e durante a noite, fantásticas premières, com suas luzes nas calçadas que iluminavam leões e javalis de mármore branco que se postavam em cada uma das entradas.

Seus funcionários a postos para receber o público que enchia corredores forrados com tapetes vermelhos a caminho das salas ou subia as imponentes escadas de mármore com passadeiras vermelhas procurando por seus camarotes.

Do lado de fora dos cinemas, sempre abertos, estavam os restaurantes elegantes que recebiam sempre estrelas do cinema mundial como Jack Nicholson, Brigit Bardo, Marlon Brando entre muitos outros, sempre ao som de Sinatra, Ray Charles, Nat King Cole e Chet Baker que se revezavam no palco.

Bares que serviam o melhor chopp do mundo, com suas varandas com mesinhas brancas, onde se via sempre batendo papo Leila Diniz, Paulo José, Tônia Carrero, Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Vinicius de Moraes, Elis Regina, Tom Jobim entre outros (às vezes muitos deles davam suas canjas no bar).

Atravessando a rua, poderia sempre entrar na Biblioteca Nacional e conversar horas a fio com Castro Alves, Ariano Suassuna, Tolkien, Mario Puzzo, Homero, Platão, Shakespeare sem que nenhum deles se mostrasse exasperado com a minha ignorância e então quando quisesse apenas caminhar eu ia para a rua, no centro de tudo onde veria de um lado da grande praça o Teatro Municipal apresentando I Pagliacci e do outro lado, em um plco pequeno próximo à praia estaria ninguém menos que Françoise Hardy encantando a todos com seu repertório.
Pala rua caminhariam todos os meus amigos, os novos amigos, os antigos, aqueles que a vida levou pra longe ou aqueles que simplesmente deixaram a vida, aqueles familiares que se tornaram meus amigos e aqueles amigos que se tornaram quase familiares. Entre eles passeariam meus cães, todos aqueles que estiveram comigo durante minha vida, saudáveis felizes e inabaláveis em sua paz.

Eu caminharia entre todos eles e teria olhos pra cada um e não apenas para todas as belas mulheres que passeiam despreocupadas, entre os mímicos, os floristas e pipoqueiros.

Mulheres que tiveram o meu amor durante toda a minha vida. Belas atrizes, estonteantes modelos, chamativas balconistas de lojas chiques ou de postos de paradas das estradas por onde passei. Doces meninas que me encantavam no colegial, inalcançáveis moças que me impressionavam no ginásio, belas mulheres que ainda hoje despertam em mim as paixões instantâneas que aqueles que caminham pelas ruas do centro da cidade conhecem tão bem.



Todas elas caminhando pelas ruas, me enchendo de sorrisos enigmáticos e olhares significativos enquanto eu passo, todas de certa forma sabendo que eu e apenas eu, fui o responsável por imortalizá-las, naquele momento para todo o sempre, com sua beleza e sua juventude intactas até que a minha memória desapareça para sempre do mundo.

Como podem ver, esse até que é um bom motivo para se tentar andar na linha.
Pelo menos eu acho.

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